Um olhar sobre o pedagogo escolar
Desde que
houve, por parte da classe e do governo, a efetivação do pedagogo como
componente da equipe escolar na rede pública do Paraná, vem se
discutindo o seu papel e as implicações de sua atuação na rotina
escolar. Muito se diz, e vem sendo dito, sobre as incumbências do
pedagogo na escola.
Ocorre que, muitas vezes, o
pedagogo tem uma formação inicial deficitária, haja vista que, por meio
de pesquisas institucionais, constatou-se que boa parte dos estudantes
de Pedagogia tem histórico de fracasso escolar. E estes estudantes
concluem o curso e acabam atuando nas escolas de Ensino Fundamental e
Médio. E muitas vezes esta atuação é capenga, fragmentada, dissociada de
fundamentação teórica consistente.
Noto, em meu cotidiano, que
existem pedagogos que nem sequer possuem noção de aspectos básicos da
pedagogia para uma atuação adequada. Em encontros de pedagogos (reuniões
técnicas, jornadas pedagógicas, formação continuadas, entre outras)
ainda impera o senso comum, os discursos fofoqueiros de temas referentes
a alunos e professores, as reclamações da falta de estrutura para
trabalhar, as queixas da falta de condições mínimas, o acúmulo de
tarefas e, consequentemente, por faltar espaço de tempo, a dificuldade
em manter uma discussão teórica sem cair no espontaneísmo.
Deste modo, a equipe pedagógica
da escola acaba não “resgatando” o trabalho, nem constituindo a sua
identidade. Quero dizer que, por haver deficiência na formação, os
profissionais desconhecem realmente quais as atribuições e competências
do pedagogo. Preferem as amarguras da profissão e as lamúrias de rotina
desgastante, do que realmente fortalecer a dinâmica de trabalho desse
profissional.
Percebo que é recorrente no
discurso de pedagogos a expressão “apagar incêndio” para ilustrar a
rotina de seu trabalho. Considero interessante e necessário que haja uma
definição adequada para essa expressão, uma vez que muitos pedagogos
constituem sua identidade profissional “apagando incêndio”, justamente
por não conseguirem realizar de fato as atribuições que cabem a ele.
Poderíamos conceber um perfil
de pedagogo somente analisando as atividades “apaga incêndio” e isso
demonstraria a falta de posicionamento ético profissional coerente e
adequado. Por isso, junto com respeito e profissionalismo, é fundamental
o reconhecimento e o fortalecimento de nossa identidade como
articuladores dos aspectos pedagógicos e humanos, trazendo clareza da
nossa função e dando a devida importância para a nossa atuação.
Sabe-se que o papel do
pedagogo escolar (da equipe pedagógica) é bastante claro e substancial
na legislação toda referente a esse profissional. Quando se observa nas
escolas públicas do Paraná, nota-se a presença do pedagogo em todas
elas. E, se perguntamos para qualquer diretor, se haveria possibilidade
de administrar a escola hoje, sem o pedagogo, certamente ouviremos a
resposta “não”. Pois bem, a reflexão que se torna necessária é: a quem
está servindo as ações do pedagogo que não são, a priori, de sua alçada?
Afinal, é grande a quantidade de tarefas outorgadas ao pedagogo para as
quais não é necessário ter formação em pedagogia para resolvê-las. São
as ações “apaga incêndio” que impedem ou dificultam a atuação
referendada em posicionamento profissional adequado.
Como se sabe, o trabalho do
pedagogo está pautado nos princípios da gestão democrática e
participativa, tendo como referencial teórico a ética profissional, a
autonomia da escola, a atitude investigativa, a formação continuada e a
escola como ambiente educativo. Desse modo, é importante estabelecer no
interior da equipe pedagógica, elaborada por todos os seus membros, uma
organização do trabalho pedagógico que fortaleça a ação profissional e
crítica.
No caso da minha experiência,
na escola em que atuo (Colégio Professor Francisco Zardo – Ensino
Fundamental, Médio e Profissional, em Curitiba), na qual somos uma
equipe com 10 pedagogos, organizamos o Plano de Ação da Equipe
Pedagógica baseados nos seguintes itens:
1.Construção do projeto político-pedagógico,
2. Implementação do trabalho pedagógico no coletivo da escola (organização do espaço e tempo escolar e da prática pedagógica),
3. Formação continuada do coletivo de profissionais da escola,
4. Relações entre a escola e a comunidade e
5. Avaliação do trabalho pedagógico
A partir dessa organização,
detalhamos e distribuímos as tarefas do cotidiano, sendo cada pedagogo
responsável e referência para cada um dos aspectos do Plano.
Desse modo, articulamos a teorização, análise e planejamento, com as ações de rotina, “apaga incêndio” e imprevistos.
Enfatizamos sempre a
linguagem em comum e as ações para os 03 turnos da escola e, para manter
a unidade de discursos e ações, nos reunimos toda terça-feira, das
17h30 às 19h, juntamente com a direção e secretária (que registra em
ata) para discutirmos e definirmos as ações da semana e do bimestre.
Nesses encontros, definimos as ações de Conselho de Classe, Reunião de
Pais, eventos da escola, Pautas de encontros pedagógicos com os
docentes, partilha de experiências, organização do calendário bimestral,
levantamento de soluções para os problemas pontuais, etc. Temos uma
dinâmica própria do grupo, na qual cada membro assume as
responsabilidades e definição sua ação juntamente com seus pares. Desde o
ano 2009 temos essa prática, a qual tem contribuído grandemente para
fortalecer a identidade e ações dos pedagogos na escola.
Historicamente, o pedagogo
sempre buscou seu “lugar ao sol”, carecendo ainda de inúmeras ações para
realmente provar a que veio.
Notamos, com certa angústia, o
quanto nosso trabalho fica fragilizado e fragmentado por perceber que as
teorias de organização do trabalho pedagógico ainda são baseadas num
modelo ideal de educação.
Infelizmente, as dores da
prática na escola pública, deixadas de lado por serem senso comum ou
simplistas, estão aí, conectadas há anos na pele da pedagogia, sem a
devida importância. Por isso, acaba que não realizamos uma função para a
qual temos formação, e assumimos, pouco a pouco, a insensatez da
realidade que retrata e reproduz na escola a tragédia social que
vivemos. Ainda bem que, pelo menos, temos espaço para partilharmos e
buscarmos alternativas para construir realmente a nossa identidade.
Evidentemente, trabalhar em
equipe grande é bem interessante. Há grandes desafios, como consensuar
determinadas questões e cuidar para a linguagem em comum aconteça.
Afinal, como somos em 10 pedagogos, somos também uma multiplicidade de
idéias, de interesses, de posicionamentos, de direcionamentos, de
preferências. Porém, as discussões e os acordos fazem com que tenhamos
uma unidade de ação e, assim, organizamos tudo para fazer o trabalho
pedagógico deslanchar como tem de ser. Nossos encontros às terças-feiras
contribuem muito para isso.
Trabalhar sozinho é bem
puxado e desgastante. Mesmo a escola sendo pequena, as obrigações de
pedagogo devem ser cumpridas. Sendo sozinho, realmente o trabalho fica
bem extenuante; ainda mais se tiver que cumprir outras funções. Acaba
sendo um trabalho solitário. E seja como for, é sempre bacana ter por
perto um companheiro para trocar ideia e tomar juntos a decisão nalgum
caso com aluno, professor, família, etc. Já trabalhei em escola pequena,
quando ainda residia no interior, e sei muito bem essa realidade de
escola pequena. De qualquer forma, vale mesmo a postura clara e o
trabalho sério do pedagogo para implementar as melhorias em nossas
escolas.
Ao longo dos anos que venho
atuando na rede pública, tenho tido a preocupação de, por meio da minha
ação pedagógica, melhorar a escola nos seus aspectos de ensino
aprendizagem. Há um discurso recorrente de que a educação pública está
péssima (e em alguns pontos tem razão), mas não posso ficar concordando
com isso e não fazer nada. Por isso, juntamente com a equipe da qual
faço parte, definimos bem onde estamos e aonde queremos chegar, com o
fim principal de melhorarmos nossa escola e, consequentemente, nosso
ambiente de trabalho.
Temos uma série de desafios e
problemas em nossa escola, mas temos conseguido superar muitos deles,
dentre os quais os de violência, de drogas, de pichações e de
indisciplina (ainda que existam, porém em escala menor que no passad
recente). Ainda temos muito que melhorar, e o trabalho sério que temos
empenhado tem contribuído para nosso maior entusiasmo para enfrentar a
rotina. E é claro, o planejamento e a clareza de ações são a chave para
que nosso trabalho seja percebido com o devido valor.
Como na minha escola somos 10
pedagogos, cada um com suas idéias, interesses, posicionamentos,
direcionamentos, preferências, nos reunimos semanalmente para reforçar
nossa unidade. Para melhorar nossa comunicação, temos o mural dos
professores e da pedagogia, os e-mails e um blog, no qual publicamos
informações que é para todos: conselho de classe, reunião de pais,
atividades com alunos, textos de assuntos da pedagogia, notícias da
escola ente outros. O blog é o www.pedagogiazardo.blogspot.com.
Por fim, sendo o pedagogo
escolar o profissional que domina as formas de organização dos
conhecimentos constituídos historicamente e possibilita, por sua ação
clara e coerente, o acesso à formação cultural e social, então nos resta
fortalecer, enquanto equipe pedagógica, a identidade e as ações
detalhadamente descritas no Plano de Ação da Equipe Pedagógica da
Escola.
Com isso, fica a certeza de
que um trabalho coeso, sério e ético possibilita que nos tornemos
agentes ativos na construção de uma escola melhor, aonde todos fazem a
sua parte e, somadas, essas partes colaboram para sermos mais felizes no
trabalho.
(Alexandro Muhlstedt – Pedagogo do Colégio Francisco Zardo)
Parabéns a equipe pedagógica e ao texto que retrata muito bem o contexto do trabalho do pedagogo na escola e seus desafios.Quero enfatizar que esta realidade no que se refere as dificuldades encontradas ao longo do processo de trabalho é recorrente na maioria das escolas,e a forma seria e comprometida investida por sua equipe é um ponto muito importante para exemplificar que o trabalho pode dar certo.Sucesso,pois o terreno da educação é muito fértil,por vezes pantanoso,mas que sem dúvida alguma ,se trabalhado de forma humanizada e com competência técnica,vira um belo jardim.
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