quinta-feira, 11 de abril de 2013

A escola pública brasileira: uma realidade dura



Entrevista com Roberto de Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.


É uma escola que passa por uma enorme dificuldade e em sua maioria, frequentada por pessoas que estão em situação econômica problemática. Enfim, é a escola que o povo frequenta e que passa hoje por dificuldades de estrutura, de funcionamento, etc. A escola pública brasileira se sustenta hoje muito mais pela solidariedade dos profissionais da educação que atuam nela, do que por conta das políticas públicas que deveriam fazê-la funcionar direito.


Penso que precisamos avaliar essa questão da indisciplina não como algo que é só da escola. A sociedade e o mundo estão muito violentos, hoje. A falta de perspectiva para nossa juventude é uma realidade e isso termina refletindo dentro da escola pública. Aliás, a escola é o único aparelho social que o Estado conta para poder fazer políticas de integração desse pessoal que vive mal, que não tem serviço, que têm poucas perspectivas num mundo extremamente competitivo. Então, o único lugar que o Estado tem para que essas pessoas possam construir algo de forma solidária é a escola. E isso, no entanto, sobrecarrega o trabalhador da escola, ou seja, os professores, pois eles passaram a ter funções que, na verdade, são de psicólogos, de assistentes sociais, e até dos pais. Há professores que terminam atuando para além daquilo que seria sua função primeira, que é ensinar.


As turmas são muito grandes mesmo e há um descompasso entre a realidade da escola e o mundo fora dela. O aluno tem, dentro da escola, acesso a coisas que lá fora, muitas vezes, ele não tem, como o computador e o acesso às novas tecnologias. Mas reitero que os professores são obrigados a exercer diversas atividades para além daquelas que são inerentes a eles. Com isso, perdem muito tempo nessas funções, dando bronca, conversando com os alunos, fazendo as vezes de um psicólogo, querendo organizar a vida do aluno por um caminho menos problemático, tentando entender aquele tipo de comportamento. Evidentemente, isso tira o tempo destinado à transmissão de conhecimento. A escola está sobrecarregada, mas ela também tem o papel de preparar o jovem no sentido de fazê-lo crescer para o mundo, para a vida. Muitas vezes uma aula, que teoricamente é perdida porque o conteúdo não foi dado, pode ser uma vitória porque, a partir dali, pode haver uma mudança de comportamento dos alunos ou de algum aluno em especial. Temos que ponderar isso. 


Temos que ter investimento muito pesado. É preciso passar dos 4,5% do PIB dedicados à educação. Essa é uma reivindicação antiga. O processo de valorização dos profissionais da educação passa pela formação inicial sólida e consistente, assim como passa por uma formação continuada constantemente atualizada, por carreiras que permitam ao profissional vislumbrar um futuro, e por salários melhores. Deixei o salário para o fim porque se costuma dizer que nossas reivindicações são puramente salariais, o que não é verdade. Esse aspecto também precisa passar um processo de gestão democrática, que permita com que o aluno encontre um futuro no qual, como cidadão, será o protagonista da sua própria vida. Se tivermos investimento, valorização profissional e gestão democrática, caminharemos com muita tranquilidade para a construção de uma escola pública de qualidade, que é o sonho de todos nós.

Penso que a decadência da escola pública no Brasil se dá a partir do momento em que ela recebe muito pouco investimento. Na medida em que há, portanto, desvalorização dos profissionais, a escola passa a ser um espaço para onde as crianças vão "só por ir". A falta de perspectiva do nosso jovem está muito ligada ao fato de nós vivermos hoje num mundo tremendamente competitivo, onde o êxito e o fracasso é responsabilidade individual do ponto de vista daqueles que nos levaram a essa situação. O jovem termina o ensino médio com uma pressão grande de ser feliz, mas essa felicidade nem sempre é aquela que ele procura, mas sim uma felicidade que o obrigam a ter. Portanto, esse jovem tem que ter êxito até os 20 e poucos anos, senão será um fracassado. Isso tudo tenciona muito nossos jovens no ensino médio e a escola não consegue superar esse problema, ou seja, fazer com que o aluno compreenda que ele é o protagonista da sua própria vida e pode ser feliz como quiser, desde que respeite as regras de convivência. Portanto, atualmente, o problema é que temos um aluno insatisfeito socialmente e economicamente que vai para a escola com a perspectiva inicial de que, com o estudo, vai conseguir melhorar sua vida. Mas chega lá e encontra uma escola que não está preparada para recebê-lo e isso termina fazendo com que ele se desiluda ainda mais. Esse não é um problema apenas da escola pública. Não tenho dúvida em dizer que 90% das escolas particulares são piores ou iguais às escolas públicas, sejam estaduais ou municipais