Revista NOVA ESCOLA
1 — O que é o construtivismo?
É o nome pelo qual se tomou conhecida
uma nova linha pedagógica que vem ganhando terreno nas salas de aula há
pouco mais de uma década. As maiores autoridades do construtivismo,
contudo, não costumam admitir que se trate de uma pedagogia ou método de
ensino, por ser um campo de estudo ainda recente, cujas práticas, salvo
no caso da alfabetização, ainda requerem tempo para amadurecimento e
sistematização.
2- Em que se distingue a pedagogia construtivista, em linhas gerais?
O construtivismo propõe que o aluno
participe ativamente do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a
pesquisa em grupo, o estímulo à dúvida e o desenvolvimento do
raciocínio, entre outros procedimentos. Rejeita a apresentação de
conhecimentos prontos ao estudante, como um prato feito, e utiliza de
modo inovador técnicas tradicionais como, por exemplo, a memorização.
Daí o termo “construtivismo”, pelo qual se procura indicar que uma
pessoa aprende melhor quando toma parte de forma direta na construção do
conhecimento que adquire. O construtivismo enfatiza a importância do
erro não como um tropeço, mas como um trampolim na rota da aprendizagem.
O construtivismo condena a rigidez nos procedimentos de ensino, as
avaliações padronizadas e a utilização de material didático
demasiadamente estranho ao universo pessoal do aluno.
3 — Com base em que o construtivismo adota tais praticas?
Com base nos estudos do psicólogo suíço
Jean Piaget (1896-1980),. a maior autoridade do século sobre o processo
de funcionamento da inteligência e de aquisição do conhecimento. Piaget
demonstrou que a criança raciocina segundo estruturas lógicas próprias.
que evoluem conforme faixas etárias definidas, e são diferentes da
lógica madura do adulto. Por exemplo: se uma criança de 4 ou 5 anos
transforma uma bolinha de massa em salsicha. ela conclui que a salsicha.
por ser comprida, contém mais massa do que a bolinha. Não se trata de
um erro, como se julgava antes de Piaget, mas de um raciocínio
apropriado a essa faixa etária. O construtivismo procura desenvolver
práticas pedagógicas sob medida para cada degrau de amadurecimento
intelectual da criança.
4 — Piaget criou o construtivismo?
Nada mais falso. Ao contrário do que muitos imaginam, ele nunca se preocupou em formular uma pedagogia: dedicou a
vida a investigar os processos da inteligência. Outros especialistas é
que se valeram das suas descobertas para desenvolver propostas
pedagógicas inovadoras.
5 — De onde vem, então, o construtivismo?
Quem adotou e tornou conhecida a
expressão foi uma aluna e colaboradora de Piaget. a psicóloga Emilia
Ferreiro. nascida na Argentina em 1936 e que atualmente mora no México.
Partindo da teoria do mestre, ela pesquisou a fundo, e especificamente. o
processo intelectual pelo qual as crianças aprendem a ler e a escrever,
batizando de construtivismo sua própria teoria.
6 — Então é ela a autora da pedagogia construtivista?
Não. A exemplo de Piaget, Emilia se
limitou a desenvolver uma teoria científica. Outros especialistas é que
vêm utilizando suas descobertas, assim como as de Piaget. para formular
novas propostas pedagógicas. No começo, o nome construtivismo se
aplicava só à teoria de Emilia. Com o tempo, passaram a ser chamadas de
construtivistas as novas propostas pedagógicas inspiradas em sua teoria,
a própria teoria de Piaget e ate mesmo pedagogias anteriores, porem
compatíveis, como a do educador soviético Lev Vigotsky (1896-1934).
7 — O que a teoria de Emilia Ferreiro sustenta?
A pesquisadora aplicou a teoria mais
geral de Piaget na investigação dos processos de aprendizado da leitura e
da escrita entre crianças na faixa de 4 a 6 anos. Constatou que a
criança aprende segundo sua própria lógica e segue essa lógica até mesmo
quando ela se choca com a lógica do método de alfabetização. Em resumo,
as crianças não aprendem do jeito que são ensinadas. A teoria de Emilia
abriu aos educadores a base científica para a formulação de novas
propostas pedagógicas de alfabetização sob medida para a lógica
infantil.
8 — Qual é a lógica infantil na alfabetização, segundo Emilia Ferreiro?
A pesquisadora constatou uma sequência
lógica básica na faixa de 4 a 6 anos. Na primeira fase, a pré-silábica. a
criança não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada e
se agarra a uma letra mais simpática para “escrever”. Por exemplo, pode
escrever Marcelo como MMMMM ou AAAAAA. Na fase seguinte, a silábica, já interpreta
a letra à sua maneira, atribuindo valor silábico a cada uma (para ela.
MCO pode ser a grafia de Mar-ce-lo. em que M=mar, C=ce e 0=l0). Um
degrau acima, já na fase silábico-alfabética, mistura a lógica da fase
anterior com a identificação de algumas sílabas propriamente ditas. Por
fim, na última fase, a alfabética, passa a dominar plenamente o valor
das letras e silabas.
9 — O construtivismo se aplica somente à alfabetização infantil?
Não. Ainda se encontra muito vinculado à
alfabetização, porque foi por essa área que começou a ser desenvolvido,
a partir da base teórica proporcionada por Emilia Ferreiro. Contudo,
práticas construtivistas, devidamente adaptadas, já estão bastante
difundidas até a quarta série do primeiro grau. A partir da quinta
série, porém, quando cada disciplina passa a ser ministrada por um
professor especializado, tais práticas são menos utilizadas, até pela
relativa escassez ainda registrada de pesquisas teóricas equivalentes às
de Emilia.
10 — Por que o construtivismo faz restrições à “prontidão” na alfabetização infantil?
Com base nas teorias de Piaget e Emilia
Ferreiro, os construtivistas consideram inútil a prontidão, ou seja, o
treinamento motor que habitualmente se aplica às crianças como
preparação do aprendizado da escrita. Para eles, aprender a ler e
escrever é algo mais amplo e complexo do que adquirir destreza com o
lápis.
11 — O aluno formado pelo construtivismo fica bom de raciocínio, com mais senso crítico, porém mais fraco de conhecimentos?
Não é bem assim. Os construtivistas
insistem em que, embora o construtivismo enfatize o processo de
aprendizagem, este não ocorre desligado do conteúdo: simplesmente não há
como formar um indivíduo crítico no vazio. Portanto, a aquisição de
informações é fundamental.
12— Como o construtivismo
transmite o conhecimento não passível de ser “construído” pelo aluno,
como nomes de cidades ou de presidentes?
O construtivismo estimula a descoberta
do conhecimento pelo aluno. Evita afogá-lo com informações prontas e
acabadas, mas quando necessário não hesita em valer-se da memorização.
Neste caso, a professora deve escolher o momento oportuno e criar
situações interessantes para transmitir esses conhecimentos, fugindo
assim da rigidez da prática tradicional.
13 — O construtivismo requer mais atenção individual ao aluno do que outras linhas de ensino?
Sim, mas não com a obsessão que às vezes
se imagina. Se o construtivismo admite que cada aluno tem o seu
processo particular de aprendizagem, a professora deve conhecê-lo,
acompanhá-lo e fazer as intervenções adequadas. Mas isso não quer dizer
centralização total, ao contrário. O construtivismo valoriza muito o
intercâmbio entre os alunos e o trabalho de grupo, em que a professora
tem uma presença motivadora e menos impositiva.
14 — Como a professora pode dar atenção individualizada em classes de 30 ou 40 alunos?
O ideal é que as classes não sejam tão
numerosas. Mas, de qualquer modo, vale a alternativa de trabalhar com
duplas ou trios, agrupando as crianças por habilidades parecidas ou
opostas, a critério da professora. No construtivismo, a professora
aproveita a individualidade de cada aluno para o enriquecimento do
grupo.
15 — Por que o construtivismo contesta o ensino dirigido?
Não é bem isso. O construtivismo
considera a sistematização do ensino necessária, mas aplicada com bom
senso e flexibilidade. Contesta, sim, que o currículo seja uma imposição
unilateral, uma camisa-de-força, com etapas rígidas, sucessivas e
inalteráveis. Não se aprende por pedacinhos, mas por mergulhos em
conjuntos de problemas que envolvem vários conceitos ao mesmo tempo,
afirmam os construtivistas.
16 — Por que a alfabetização construtivista rejeita o uso da cartilha?
Primeiro, porque a cartilha prevê etapas
rígidas de aprendizagem, coisa que o construtivismo descarta. Segundo.
porque os construtivistas acham que a linguagem geralmente usada nas
cartilhas (“Bá-bé-bi”. “Ivo viu a uva” etc.) é padronizada, artificial,
distante do mundo conhecido pela criança.
17— Por que o construtivismo faz restrições aos livros didáticos?
Pelo fato de a maioria deles apresentar o
conhecimento em sequência rígida, prevendo uma aprendizagem de
conceitos baseada na memorização.
18— E ao ensino da tabuada?
O caso é diferente. A memorização é
essencial para agilizar o cálculo mental, mas isso deve ocorrer após o
aluno compreender o significado das operações aritméticas, como a
multiplicação. O que os construtivistas não aceitam é a memorização
puramente mecânica. conhecida como “decoreba”.
19— E a restrição ao ensino de regras gramaticais?
O construtivismo contesta que o ensino
da gramática seja o meio para se levar o aluno a entender e dominar o
processo de escrever corretamente. Isso se adquire praticando a escrita,
mesmo com erros gramaticais. A medida que o aluno vai dominando a
escrita é que se passa a ensinar-lhe a gramática. As regras identificam
certas regularidades da língua, mas para entendê-las é preciso tê-las
percebido na prática.
20 — Por que o construtivismo, em geral, não aceita o uso de fórmulas, como as de matemática e as de sintaxe?
Não é que não aceite. A restrição é ao
ensino de fórmulas como se fossem os conteúdos, pois elas não passam de
esquemas sintéticos muito mais abstratos. A fórmula, em si mesma, não é o
núcleo do conhecimento, mas aquilo que o sustenta.
21 — Qual é o papel da professora no construtivismo e em que difere do ensino tradicional?
Em vez de dar a matéria, numa aula
meramente expositiva, a professora organiza o trabalho
didático-pedagógico de modo que o aluno seja o co-piloto de sua própria
aprendizagem. A professora fica na posição de mediadora ou facilitadora
desse processo.
22 — O que é necessário para ser uma boa professora construtivist
Mentalidade aberta, atitude
investigativa. desprendimento intelectual, senso crítico, sensibilidade
às mudanças do mundo combinada com iniciativa para torná-las
significativas aos olhos dos alunos e flexibilidade para aceitar a si
mesma em processo de mudança contínua. Ela precisa dar mais de si e
precisa estar o tempo todo se renovando, para sustentar uma relação com
os alunos que não se baseia na autoridade. mas na qualidade.
23 — A professora construtivista precisa de uma orientadora pedagógica?
Sim. A orientadora é importante, não
para tutelar a professora, mas para servir de interlocutora com quem ela
possa refletir sobre sua prática.
24 — É possível ser construtivista em uma escola tradicional?
Em geral, o projeto pedagógico de uma
escola tradicional não favorece nem leva em conta o trabalho de uma
professora que resolva tocar em outro tom. Embora seja difícil manter
uma proposta individual num ambiente alheio a mudanças, há muitos casos
assim. Além disso, deve-se considerar o fato de que é difícil uma escola
passar a ser construtivista num só golpe. Isso ocorre de maneira
paulatina, até porque o construtivismo, do mesmo modo que respeita os
processos de transformação por que passam os alunos, também deve
respeitar o das próprias professoras
25 — Existem manuais que ensinem a ser construtivista
Manuais, com tudo mastigado, não. Mas
não falta material de apoio para que a professora comece a olhar seu
trabalho de outro modo (leia bibliografia ao final deste texto). O
fundamental, de qualquer maneira. é a prática. Calcula-se que são
necessários ao menos dois anos de prática em classe, reforçados por
reuniões semanais com outros colegas, para tornar-se uma boa professora
construtivista.
26— Existem cursos que ensinem a ser construtivlsta?
Algumas instituições promovem cursos de
extensão ou especialização, seminários, palestras e reuniões de estudo
com essa finalidade. Mas atenção: nesses cursos não se ensina a
ser construtivista. Neles se discute a prática da professora, de modo
que ela ganhe elementos para encontrar seu próprio caminho, mais ou
menos como depois irá fazer em relação ao aluno.
27 — Quais as vantagens do construtivismo sobre outras linhas de ensino?
Procura formar pessoas de espírito
inquisitivo, participativo e cooperativo, com mais desembaraço na
elaboração do próprio conhecimento. Além disso, o Construtivismo cria
condições para um contato mais intenso e prazeroso com o universo da
leitura e da escrita.
28 — Quais as desvantagens do construtivismo em relação a outras linhas de ensino?
Sendo uma concepção pedagógica nova e
flexível, não oferece à professora instrumentos tão seguros e precisos
com respeito ao seu trabalho diário. Ainda há muito por sistematizar,
admitem os construtivistas.
29 — As outras linhas de ensino não podem formar alunos tão bem ou mesmo melhor que o construtivismo?
Em termos de quantidade de conhecimento,
sim. Quanto à qualidade do conhecimento, dificilmente, pois o
construtivismo desperta no aluno um senso de autonomia e participação
que não é comum em outras linhas pedagógicas, sustentam os construtivistas.
30 — O construtivismo forma o estudante com mais ou menos rapidez que outras linhas de ensino?
O construtivismo não dá exagerada
importância a prazos rígidos. Na alfabetização construtivista, estima-se
que um aluno do meio rural, que nunca viu nada escrito, precisa de dois
a três anos para chegar a ler e escrever com eficiência. Já no meio
urbano, um aluno de 7 anos, que convive intensamente com a escrita, leva
algo em tomo de um ano e meio. Comparativamente, no ensino
convencional, a maioria das crianças é capaz de soletrar e formar
palavras em um ano – o que os construtivistas, contudo, não consideram
alfabetização
31 — Como a escola
construtivista lida com a ansiedade de pais que percebem seus filhos
atrasados em relação a crianças de outras escolas?
Aproximando os pais da escola, tenta-se
demonstrar a eles quais as diferenças desta nova concepção de trabalho,
comparando-a com o ensino tradicional. Pode não se tratar propriamente
de um atraso, no sentido de deficiência no aproveitamento, mas de um
outro ritmo de aprendizado que, ao final do ano, vai resultar numa
vantagem qualitativa.
32-Um aluno formado
exclusivamente dentro dos moldes construtivistas pode competir em
igualdade de condições em vestibulares e concursos públicos?
A resposta é arriscada, pois ainda há
muito poucos alunos formados exclusivamente pelo construtivismo em idade
de vestibular e não há pesquisas conhecidas a respeito.
33 — O construtivismo permite que os pais ajudem os filhos nas tarefas de casa?
Ponto polêmico. Alguns admitem que sim:
se o jeito de ensinar dos pais for diferente do da escola, a criança tem
a vantagem de dispor de outra forma de aprender. Outros, contudo,
sustentam que a tarefa de casa é para ser realizada pelo aluno. A
vantagem, aí, seria ele ter chance de experimentar uma situação rara
para ele na escola, uma vez que a maioria das atividades em classe é
realizada em grupo.
34 — Como é a avaliação do aluno no construtivismo?
O aluno é
permanentemente acompanhado, pois a avaliação é entendida como um
processo contínuo, diferente do sistema de provas periódicas do ensino
convencional. Segundo os construtivistas, a avaliação tem caráter de
diagnóstico – e não de punição, de certo ou errado, de exclusão. Além
disso, a própria professora também se auto-avalia e modifica seus rumos.
35 — Em que difere a prova construtivista?
Ela tem peso menor que no ensino
tradicional. Não é o único indicador do rendimento do aluno, que também é
avaliado pelo desempenho rotineiro em classe. Além do mais, a prova não
é uma peça estranha ao grupo, elaborada fora da sala de aula, por um
especialista (geralmente um coordenador). Tal responsabilidade cabe à
própria professora, que leva em conta aquilo que já foi efetivamente
trabalhado na sala de aula.
36—O que significa o erro do aluno?
É tomado como um valioso indicador dos
caminhos percorridos por ele para chegar até ali. A professora não está
tão preocupada com o acerto da resposta apresentada pelo aluno, mas
sobretudo com o caminho usado para chegar a ela. Em vez de ser um mero
tropeço, o erro passa a ter um caráter construtivo, isto é, serve como
propulsor para se buscar a conclusão correta.
37 — O construtivismo não corrige o erro do aluno?
Corrige, mas sempre tomando o cuidado de
que a correção se transforme numa situação de aprendizagem, e não de
censura. Por exemplo, no início do ano a professora pede aos alunos que
escrevam um texto e guardem o material corrigido. No fim do ano, pede
uma nova redação sobre o mesmo tema. Então, junto com os alunos. compara
os dois trabalhos, ressaltando os progressos ocorridos. No ensino
tradicional, o erro deixa menos vestígios no caderno do aluno, pois é
corrigido, apagado, à medida que aparece.
38—O construtivismo reprova?
Sim, quando o aluno se encontra em tal
atraso em relação ao resto da turma, que fazê-lo passar de ano seria
lançá-lo numa situação muito desagradável. De qualquer modo, tenta-se
evitar que a criança viva a reprovação como um atestado de sua
incapacidade ou como castigo por não ter aprendido.
39 — Os alunos transferidos de uma escola construtivista para outra, não-construtivista, acompanham mal a nova turma?
Os construtivistas não reconhecem a
existência deste fenômeno, mas especulam que poderia tratar-se de uma
pura e simples questão de adaptação, e não de despreparo. Os alunos
podem achar a nova escola desinteressante, não gostar da postura da
professora ou estranhar os métodos de avaliação.
40 — O aluno educado no construtivismo é mais sujeito a cometer erros do português?
No inicio do construtivismo isso ocorria
com freqüência. porque os professores se preocupavam mais com o
conteúdo do texto do que com a ortografia – falha que passaram a
corrigir nos últimos cinco anos.
41 — Por falta do treinamento motor (prontidão), as crianças alfabetizadas no construtivismo acabam fracas de caligrafia?
O construtivismo sustenta que não, pois o
treinamento delas se faz à medida que vão escrevendo. Algumas escolas
chegam ainda a lançar mão do velho caderno de caligrafia, como no ensino
tradicional, quando a criança tem letra ruim.
42 — O construtivismo desestimula a competição entre os alunos?
Sim, pois uma de suas linhas mestras
repousa justamente na cooperação entre eles. No entanto, mesmo pondo de
lado a competição, o construtivismo investe no desafio pessoal, como
motivação para a criança ir sempre avante nas trilhas do conhecimen
43 — A sala de aula numa escola construtivista é mais barulhenta e agitada do que na tradiconal?
Em termos. O que ocorre é que as crianças não são passivas. mas sim estimuladas a participar, dizem os construtivistas
44 — As crianças não tendem a
ficar indisciplinadas, malcriadas e incapazes de ouvir o outro, em
consequência de uma educação construtivista?
Caso elas tendam à indisciplina e ao desrespeito
a outra pessoa, seja colega ou professor, terá falhado um dos pilares
do construtivismo, argumentam seus praticantes, pois o que se enfatiza é
justamente a reciprocidade na fixação de regras, no escutar e no ouvir,
nos direitos e deveres, nos princípios básicos da cidadania e da
democracia.
45 — O professor construtivista deixa os alunos fazerem o que bem entendem em classe?
Não. A sala de aula é um espaço com
regras de funcionamento e de convivência. O superliberalismo pedagógico
destoa das concepções do construtivismo.
46 — O construtivismo pune alunos indisciplinados?
Sim, porém o caráter dessa punição,
dentro do possível, deve ser, digamos, “construtivo” – deve buscar a
reciprocidade e a reparação. Por exemplo, se uma criança rasga um livro,
deve consertá-lo. De todo modo. em casos mais graves, admite-se até a
tradicional suspensão.
47 — Como o construtivismo se espalhou?
As bases teóricas foram estruturadas na
primeira metade deste século, com Piaget e os psicólogos soviéticos,
entre os quais Lev Vygotsky é o mais divulgado no Brasil. As pontes para
a prática pedagógica se consolidaram com Emilia Ferreiro e seus
colaboradores, a partir do final da década de 1970. Na década seguinte, o
construtivismo se disseminou na América Latina, principalmente na
Argentina e no Brasil. As experiências brasileiras mais expressivas
foram registradas nas redes municipais de Porto Alegre e de São Paulo,
assim como no ciclo básico (as duas primeiras séries) da rede estadual
paulista.
48 — O construtivismo passou por mudanças desde que começou a ser adotado no Brasil?
Sim. A fase inicial, em que o aluno
era deixado muito solto, como se a professora não estivesse na sala de
aula (prática espontaneísta). está superada. Hoje se quer do professor
uma atuação firme e planejada (prática intervencionista). No geral,
contudo, o núcleo pedagógico do construtivismo permanece inalterado.
49 — A interdisciplinaridade tem alguma relação com o construtivismo?
Sim, embora a interdisciplinaridade seja
uma prática pedagógica autônoma e anterior ao construtivismo. Como
nenhum professor, por mais ampla que seja a sua formação, pode dominar
todos os conhecimentos envolvidos na tarefa de lecionar, o trabalho
interdisciplinar é recomendado para todo e qualquer nível.
50— É feio não ser construtivista?
Não, absolutamente. Feio é não ser
autêntica e não se preocupar em dar o melhor aos alunos, seja de si
mesma. seja das múltiplas áreas do conhecimento. Feio, enfim, é ser má
professora.
FREFERÊNCIA
Psicogênese da língua Escrita,
de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. Ed. Artes Médicas, Av. Jerônimo
Ornellas. 670. CEP 90040-340. Porto Alegre. RS. Tel: (051)
330-3444/330-2183
A Escrita e a Escola, de Ana Maria Kaufman. Ed. Artes Médicas.
Alfabetização em Processo, de Emilia Ferreiro. Ed. Cortez. R. Bartira. 387. CEP 05009-000. São Paulo. SP. Tel: (011) 864-0111.
Ensaios Construtivistas, de Lino de Macedo. Ed. Casa do Psicólogo. R. Alves Guimarães, 436, CEP 05410-000. São Paulo, SP, Tel: (011) 852-4633.
Aprendendo a Escrever: Perspectivas Psicológicas e Implicações Educacionais, de Ana Teberosky. Ed. Ática. R. Barão de Iguape. 110. CEP: 01507-900, caixa postal 8656, São Paulo, SP. Tel: (011) 278-9322.