Entrevista com Roberto de Leão, presidente da Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação.
É uma escola que passa por uma enorme dificuldade e em sua
maioria, frequentada por pessoas que estão em situação econômica problemática.
Enfim, é a escola que o povo frequenta e que passa hoje por dificuldades de
estrutura, de funcionamento, etc. A escola pública brasileira se sustenta hoje
muito mais pela solidariedade dos profissionais da educação que atuam nela, do
que por conta das políticas públicas que deveriam fazê-la funcionar direito.
Penso que precisamos avaliar essa questão da indisciplina não
como algo que é só da escola. A sociedade e o mundo estão muito violentos,
hoje. A falta de perspectiva para nossa juventude é uma realidade e isso
termina refletindo dentro da escola pública. Aliás, a escola é o único aparelho
social que o Estado conta para poder fazer políticas de integração desse
pessoal que vive mal, que não tem serviço, que têm poucas perspectivas num
mundo extremamente competitivo. Então, o único lugar que o Estado tem para que
essas pessoas possam construir algo de forma solidária é a escola. E isso, no
entanto, sobrecarrega o trabalhador da escola, ou seja, os professores, pois
eles passaram a ter funções que, na verdade, são de psicólogos, de assistentes
sociais, e até dos pais. Há professores que terminam atuando para além daquilo
que seria sua função primeira, que é ensinar.
As turmas são muito grandes mesmo e há um descompasso entre a
realidade da escola e o mundo fora dela. O aluno tem, dentro da escola, acesso
a coisas que lá fora, muitas vezes, ele não tem, como o computador e o acesso
às novas tecnologias. Mas reitero que os professores são obrigados a exercer
diversas atividades para além daquelas que são inerentes a eles. Com isso,
perdem muito tempo nessas funções, dando bronca, conversando com os alunos,
fazendo as vezes de um psicólogo, querendo organizar a vida do aluno por um
caminho menos problemático, tentando entender aquele tipo de comportamento.
Evidentemente, isso tira o tempo destinado à transmissão de conhecimento. A
escola está sobrecarregada, mas ela também tem o papel de preparar o jovem no
sentido de fazê-lo crescer para o mundo, para a vida. Muitas vezes uma aula,
que teoricamente é perdida porque o conteúdo não foi dado, pode ser uma vitória
porque, a partir dali, pode haver uma mudança de comportamento dos alunos ou de
algum aluno em especial. Temos que ponderar isso.
Temos que ter investimento muito pesado. É preciso
passar dos 4,5% do PIB dedicados à educação. Essa é uma reivindicação antiga. O
processo de valorização dos profissionais da educação passa pela formação
inicial sólida e consistente, assim como passa por uma formação continuada
constantemente atualizada, por carreiras que permitam ao profissional
vislumbrar um futuro, e por salários melhores. Deixei o salário para o fim
porque se costuma dizer que nossas reivindicações são puramente salariais, o
que não é verdade. Esse aspecto também precisa passar um processo de gestão
democrática, que permita com que o aluno encontre um futuro no qual, como
cidadão, será o protagonista da sua própria vida. Se tivermos investimento,
valorização profissional e gestão democrática, caminharemos com muita
tranquilidade para a construção de uma escola pública de qualidade, que é o
sonho de todos nós.