segunda-feira, 20 de abril de 2009

DESABAFO


Sempre levei minha vida na flauta. Mas claro, somente no que se referia a mim. Nunca dei muita importância a exames médicos, a não ser quando o medo era de morrer. Isso não é patético? Preocupava-me em aproveitar a vida. Cuidava parcamente de meu coração, mas porque tinha medo de morrer. Sonhava muitas vezes que estava fechada em um caixote/caixão e acordava sem ar. Não sei como conseguia acordar, era horrível. Talvez por isso não cuidava do resto do corpo, a menos que doía. Agora, sem mais nem menos descubro que tenho câncer no seio. Draga!!! Tenho/tinha tantos planos. E os meus seios enormes que tanto me constrangem pelo volume, e que outros acham lindos, é a porta de entrada/saída para morte.
A sensação que tenho é de castigo. Tenho culpas? Claro que tenho, e várias, mas não de pena de morte. Pequenas travessuras, sem maldade alguma, apenas para mim. Então por que? Não importa mais, o castigo foi dado e é só uma questão de tempo para se cumprir. Enquanto isso, vou vivendo como um alcoolatra, um dia de cada vez. Também já não tenho pressa e nem ânimo para brigar. Estou... vivendo... apenas isso.
As pessoas perguntam: como esta? Esta se tratando? Tenha força, tudo vai dar certo. Como se dizer isso, vai acalmar e me deixar mais dócil para morrer. Não tenho raiva das pessoas, mas no momento o que menos quero é positivismo fajuto. Nem a palavra de Deus quero ouvir. Não sinto vontade de rezar. Não quero ouvir nada sobre Jesus. Nem pensar nele. Quero apenas estar por aqui, apenas estar, existir, sem que ninguém perceba que estou aqui. Acordo, tomo café, vejo TV, almoço, durmo, TV, durmo, TV durmo... existência sem importância alguma. Não atrapalha em nada o viver dos outros. Apenas estou ali, até que desapareça.
Tantos planos em uma existência inútil. Nossa Senhora me salvou de tantas coisas terríveis na adolescência, que até não acredito que cheguei até aqui para morrer assim, como um verme. Planejei primeiro, trabalhar num escritório. Trabalho tranqüilo, bonito e chique. Eu achava e consegui trabalhar em escritórios de contabilidade. Depois veio o concurso estadual, magistério, escolas e até iniciei pedagogia, mas tranquei pela falta de verba e incentivo. Mas não desisti da faculdade apenas a deixei para mais tarde. Agora o “mais tarde” acabou. Sem tempo, o que é pior que não ter verba. Gosto muito deste meu blog, e por isso ele é a testemunha silenciosa de minha dor. Apenas um desabafo.

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